As origens antigas do MMA: Um esporte forjado ao longo dos séculos

 

Antes das arenas modernas, dos cinturões dourados e dos gigantescos eventos de pay-per-view, a essência do que hoje chamamos de Mixed Martial Arts (MMA) já existia em civilizações antigas. Culturas ao redor do mundo desenvolveram suas próprias formas de combate misto, onde força, técnica e resistência eram testadas em competições que influenciam as lutas até hoje. 

Neste primeiro episódio, exploramos as raízes milenares desse esporte e como, desde a Grécia Antiga até as práticas marciais do Oriente, a ideia de confrontar diferentes estilos já despertava a fascinação humana.  

O Pankration: A Brutalidade Olímpica da Grécia Antiga 

Em 648 a.C., os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga introduziram o pankration, uma competição que combinava golpes diretos (como socos e chutes) com técnicas de submissão, como estrangulamentos e chaves. 

Era um espetáculo sem muitas regras: os únicos golpes proibidos eram mordidas e ataques aos olhos. A vitória vinha com a desistência ou a incapacidade do adversário de continuar, o que muitas vezes resultava em lesões graves ou até a morte. A fama dos competidores ultrapassava as fronteiras gregas, e  os campões eram celebrados como herois, tornaram-se lendas.  

A essência do pankration – um confronto onde diferentes técnicas se combinam para vencer – seria retomada séculos mais tarde nos torneios de MMA.

Lutas mistas na Ásia e o Jujutsu

No Oriente, práticas semelhantes também floresceram. Na China, o leitai era um tipo de combate aberto onde lutadores de kung fu enfrentavam adversários usando não apenas golpes e chutes, mas também técnicas de projeção e derrubadas. O objetivo não era apenas derrotar o oponente, mas fazê-lo cair da plataforma onde ocorriam as lutas. 

Enquanto isso, no Japão feudal, o jujutsu se desenvolveu como uma arte letal e eficaz. Como muitos samurais precisavam lutar sem suas espadas em situações de desvantagem, essa prática envolvia a aplicação de chaves e arremessos para incapacitar adversários armados. A filosofia por trás do jujutsu,  vencer a força com técnica,  seria essencial para a criação do jiu-jitsu brasileiro e, consequentemente, para a evolução do MMA.  

Conexões Históricas: Do Coliseu à Luta Livre

O desejo de testar a habilidade física em combates também marcou a história do Império Romano, onde gladiadores enfrentavam não apenas outros homens, mas animais selvagens. Embora a motivação fosse mais o entretenimento do que a competição esportiva, a brutalidade e o apelo popular dessas batalhas anteviam um futuro onde as lutas se tornariam um espetáculo de massas.

Essas influências persistiram ao longo dos séculos, evoluindo para formas mais organizadas, como a luta livre, que já traziam elementos de confrontos híbridos. No entanto, o conceito de “arte marcial mista”, onde lutadores de diferentes escolas pudessem medir forças sob um mesmo conjunto de regras, ainda levaria mais tempo para se consolidar.

Do Passado ao Futuro: A Semente do Vale-Tudo no Brasil

 

Ao longo dos séculos, o espírito competitivo de confrontar diferentes técnicas continuou vivo em diversas partes do mundo. Esse espírito finalmente ganhou uma nova forma no Brasil do século XX, onde o Vale-Tudo emergiu como uma competição quase sem restrições, antecipando o que conhecemos hoje como MMA.

No próximo episódio, exploraremos como os irmãos Gracie usaram essa filosofia para revolucionar o mundo da luta, transformando o jiu-jitsu brasileiro em uma ferramenta letal e marcando a fundação do esporte moderno que vemos hoje. A prática do Vale-Tudo abriu as portas para uma nova era de competições de combate, onde a única regra era ser o mais eficiente possível, preparando o terreno para a criação do Ultimate Fighting Championship (UFC) anos mais tarde.  

 

REFERÊNCIAS
ARVANITIS, Jim. Pankration: The Unchained Combat Sport of Ancient Greece. 1ª. ed. [S. l.]: CreateSpace Independent Publishing Platform, 2015.
JENNINGS, L. A. Mixed martial arts: a history of ancient fighting sports to the UFC. United Kingdom: The Rowman & Littlefield Publishing Group, Inc, 2021.